Propagada como um espaço democrático de empoderamento feminino, as redes sociais parecem amargurar uma outra realidade sobre a presença da mulher nas redes.
Dia internacional da mulher é o momento em que o feed fica cheio de homenagens. São mensagens, textos, frase, rosas (flores e cores) que povoam os espaços das redes sociais. Principalmente empresas, buscam prestar homenagens para esse momento, ressaltando a presença do feminino que gera vida e poder.
A proposta para este texto era falar sobre o empoderamento feminino nas redes sociais. Enquanto juntava as informações sobre o tema, a PropMark divulgou uma pesquisa apontando que as mulheres são apenas 25% das lideranças criativas nas agências de marketings
Segundo dados do IBGE, as mulheres são mais de 51% da população brasileira. Com esses dados em mente, percebi uma coisa: enquanto a maioria dos consumidores são mulheres, a maioria das estratégias de vendas são pensadas por homens.
O significado dessa percepção
Quando me toquei sobre isso, percebi que não iria conseguir falar de empoderamento. Precisava falar de uma realidade bem próxima: a presença da mulher nas redes sociais.
É difícil encontrar dados reais sobre a presença feminina, mas é possível observá-la. Um indicador importante da força das mulheres nas redes sociais é a monetização. Segundo estudo divulgado recentemente, entre as dez celebridades que mais cobram no mundo por um publipost, seis são mulheres.
A proporção fica próxima a realidade da população mundial. Mesmo assim, é impressionante pensar que a maior influência está nas mãos das mulheres, mas que a pesquisa e estratégia está na mão dos homens.
Nunca é demais destacar: o sucesso das influenciadoras mulheres não está no uso da maquiagem, está no reconhecimento de conteúdo. Ora, se as mulheres são maioria no país, é natural que elas se identifiquem com outras mulheres.
Quando percebi esses pontos, na hora, me lembrei “Do que as mulheres gostam”. Filme de roteiro duvidoso, com premissa machista (baseada na afirmação de que é impossível entender as mulheres), mas que para o marketing tem uma observação super importante. Vou explicar melhor.
Nesse filme, um publicitário vivido por Mel Gibson assume contas de produtos destinados à mulheres. Ele fica revoltado, pois não entende nada daquele assunto.. A resposta da chefe é que ele “pense como uma mulher”. Para isso, ele bola a estratégia de provar os produtos e nesse processo, sofre um acidente e passa a ouvir os pensamentos femininos.
Por mais que o filme mostre uma mulher na posição de comando, ele aborda exatamente a dificuldade em entender os anseios que as mulheres possuem quando na posição de compra. Ele aborda também como é difícil e conseguir criar estratégias que atinjam a persona de forma eficiente. Afinal, o que se reconhece da mulher é uma imagem dela pelo prisma da propaganda, que é pensada por… homens.
O local das redes sociais
É sempre bom ser clara: não estou afirmando que os dados da PropMark apontem para um marketing a lá “O que as mulheres pensam”. O questionamento é mais profundo: a estratégia que se tem hoje nas redes sociais pensa na persona ou atinge a persona?
É óbvio que a presença da mulher em todas as áreas do marketing e da propaganda é maciça. Mas ela é ouvida, considerada e prestigiada?
Vamos dar um passo para trás. As redes sociais são consideradas arcabouços para compreender o seu público. Alí, os usuários conseguem postar seus anseios, desejos e registrar seus interesses. Por isso, os dados que são conseguidos nesse espaço são tão buscados por estrategistas.
A questão é que a existências de estereótipos que seguem a concepção de redes sociais é que pode ser um problema. Afinal, estamos realmente conhecendo melhor o nosso público ou apenas observando as pessoas sob um novo prisma?
Vamos direcionar: será que as mulheres que seguem a sua página estão procurando postagens rosas de flores no dia internacional da mulher, ou querem um conteúdo diferenciado? Pensando nos últimos anos, com o movimento #metoo e a busca da mulher por direitos sendo reacendida: são postagens ditas empoderadas que elas buscam?
Como linguista, não posso deixar de trazer alguns dados bem interessantes. Em um estudo da Universidade George Washington, as mulheres foram mais interrompidas do que interromperam em conversas aleatórias com mais de três minutos.
Ainda sobre a presença da voz feminina, um estudo da Universidade Christopher Karpowitz analisou exatamente a situação de trabalho. Nas reuniões analisadas, os homens falaram em 75% do tempo total. Um dado bem interessante sobre essa pesquisa: nos grupos em que as mulheres mais participaram, as decisões tomaram rumos diferentes, pois as perspectivas apresentadas pelas mulheres era únicas e relevantes.
De volta ao marketing e as redes sociais, neste dias da mulher, é impossível não questionar: as mulheres estão sendo ouvidas? As ideias delas estão sendo consideradas? O seu público está sendo representado nas suas ações?
Aqui, estamos sempre falando sobre o marketing humanizado e como ele é um contato entre pessoas. Nesse dia das mulheres, quero propor uma reflexão a todos que tem como público mulheres: vocês conversam com elas, falando sobre o que elas querem ouvir, ou seguem uma estratégia vozes da minha cabeça?
Tire o rosa da sua timeline e traga as mulheres. Observe as interações e como elas são resultado de um estudo direcionado do tema. Traga as mulheres para a sua estratégia!